A greve dos professores e funcionários da rede estadual de ensino entra, hoje, em seu décimo segundo dia, ainda sem perspectiva de um acordo. Ontem, a primeira rodada de negociação entre a categoria e o governo do Paraná não foi capaz de pôr fim à paralisação. As partes avançaram apenas em um dos três itens da pauta reivindicada pelos educadores: o governo se comprometeu a não mexer em direitos conquistados historicamente pelos servidores da educação. O debate de um dos principais pontos – o porte das escolas, incluindo número de docentes e funcionários – ficou para uma nova negociação, que será realizada hoje.

“A greve continua. A reunião foi insuficiente para avançar no conjunto da pauta”, disse Hermes Silva Leão, presidente da APP-Sindicato, que representa professores e servidores da rede estadual de ensino. “O bloco [de reivindicações] que ficou para a sexta-feira [hoje] é fundamental. Avançamos em só 30% do debate”, completou.

Em mais de três horas de reunião a portas fechadas, o governo explicou aos educadores que vai reenviar à Assembleia Legislativa o “pacotaço”, que prevê uma série de medidas de austeridade. Entretanto, a proposta original será desmembrada em vários projetos, divididos por grupos de assuntos. O governo garantiu que vai manter direitos trabalhistas dos professores – como os anuênios e quinquênios – e que as proposituras vão tramitar normalmente pelo Legislativo. Ou seja, não haverá “tratoraço”, em que o plenário aprova uma comissão geral de modo a agilizar a votação dos projetos.

“Não enviaremos à Assembleia nenhum projeto que retire qualquer benefício, qualquer direitos dos trabalhadores. Não houve recuo do governo. Houve, sim, um avanço no sentido de discutirmos temas que são importantes ao futuro do Paraná”, asseverou o secretário da Casa Civil, Eduardo Sciarra (PSD).

Porte das escolas

O item que deve ser discutido hoje – classificado como “importantíssimo” pela APP-Sindicato – é o que está mais distante de um acordo. A categoria não abre mão da revisão do porte das escolas, ou seja, que os colégios tenham o mesmo número de turmas, professores, pedagogos e servidores que tinham em dezembro do ano passado.

Ontem, a discussão deste tema não avançou porque os dados do sindicato e da Secretaria de Estado da Educação (Seed) são divergentes. A APP-Sindicato defende a imediata contratação de mil pedagogos que foram aprovados em concurso e que ainda não integram o quadro da rede.

A categoria também exige a incorporação de mais professores temporários (além dos dez mil, cuja contratação já foi autorizada pelo governo), além da reabertura das 2,4 mil turmas fechadas e da retomada das atividades de contraturno (como cursos de línguas e aulas esportivas e artísticas), que também haviam sido suspensas. A Seed, por sua vez, garante que recontratou 9 mil funcionários temporários e que o número de professores é suficiente.

Aulas não voltam antes de quarta-feira

Ainda que o governo e a APP-Sindicato fechem um improvável acordo na reunião de hoje, a greve dos professores e servidores da rede estadual de ensino se estenderá pelo menos até a próxima semana. O fim da paralisação precisaria ser referendado por uma assembleia geral, que já não tem tempo hábil para ser realizada ainda nesta semana.

No sábado, o Conselho Estadual da APP – que congrega núcleos sindicais de todas as regiões do estado – vai avaliar os rumos que o movimento deve tomar. Uma decisão após um eventual acordo não sairia antes da próxima quarta-feira.

Enquanto isso, os professores seguem mobilizados. Ontem, milhares de professores se aglomeraram diante do Palácio Iguaçu, onde ocorreu a primeira rodada de negociações. Na Praça Nossa Senhora de Salete, centenas de educadores permanecem acampados, com apoio de outras categorias.

Enquanto a reunião acontecia, os grevistas permaneciam do lado de fora, ora gritando palavras de ordem, ora cantando paródias de sambas e marchinhas de carnaval -- entre elas, uma versão de “Madalena” (de Martinho da Vila), que dizia: “Beto Richa, Beto Richa, você é um traidor...”.

Segundo a APP-Sindicato, a adesão à greve beira os 100%. Segundo o presidente da entidade, Hermes Leão, “apenas uma ou outra” das 2,1 mil escolas do Paraná receberam seus alunos. “Abriram por pressão de seus diretores, que estão pressionando professores e funcionários”, disse.

Foz e Cascavel têm dia de manifestação

Vacy Alvaro, especial para a Gazeta do Povo, e Luiz Carlos da Cruz, correspondente

Mais de três mil educadores participaram de um protesto ontem, em Foz do Iguaçu, no Oeste, durante o horário da reunião da categoria com o governo estadual no Palácio Iguaçu, em Curitiba. Em Foz, o movimento ganhou mais força com a presença de educadores municipais, que exigem do prefeito Reni Pereira o cumprimento da Lei de Plano de Cargos, Carreira e Salários dos professores, assinada em junho de 2014 mas ainda não implementada.

Gritando palavras de ordem, o grupo percorreu ruas da região central, partindo da Praça do Mitre – onde mantém acampamento – até a prefeitura e o Núcleo Regional de Educação.

De acordo com Fabiano Severino, presidente da APP-Sindicato/Foz, o ato pode ser considerado histórico para o município. “Acredito que pela primeira vez isso acontece em Foz do Iguaçu. Vieram para a rua professores desde a educação infantil até o ensino superior”, destacou, lembrando da presença também dos servidores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) nas manifestações.

Nas nove cidades do núcleo de Foz da APP-Sindicato, a greve conta com a adesão total dos servidores.