O 24º Foro de São Paulo terminou nesta terça-feira em Havana com uma declaração final na qual a esquerda da América Latina e do Caribe culpou o "imperialismo" dos Estados Unidos por grande parte dos conflitos regionais e exigiu a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Condenamos a guerra não convencional e de amplo espectro aplicada pelo imperialismo ianque e seus aliados europeus, latino-americanos e caribenhos contra a revolução bolivariana", destaca a declaração, na qual o Foro culpa os EUA pela instabilidade política na Venezuela.

O documento final, lido em público pela diretora-executiva do Foro, a brasileira Mônica Valente, foi apresentado durante o ato de encerramento do encontro finalizado hoje no Palácio de Convenções de Havana depois de três dias de sessões.

O encontro contou com a presença de mais de 600 políticos e ativistas, entre eles os presidentes de Cuba, Miguel Díaz-Canel; da Venezuela, Nicolás Maduro; da Bolívia, Evo Morales, e de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén.

A esquerda latino-americana também acusou os EUA e seu "imperialismo" de estarem por trás dos protestos "golpistas" na Nicarágua contra o governo do sandinista Daniel Ortega, que deixaram mais de 350 mortos, assim como de promover o assassinato de líderes sociais na Colômbia e gerar instabilidade em Cuba, Bolívia e El Salvador, segundo se lê na declaração final.

O texto também insta as forças regionais de esquerda a buscar "integração" e "reunificar esforços" para "conter e vencer a ofensiva contrarrevolucionária" dos que considera inimigos do povo: desde o capitalismo, o imperialismo e o neoliberalismo até o "sionismo internacional" e a direita em geral.

Além disso, pede a libertação imediata de Lula, a quem considera um preso político, e reivindica seu "direito a ser candidato presidencial" nas eleições de outubro.

"Lula livre", "A luta continua" e "Eu sou Fidel " foram os cantos mais repetidos entre os mais de 600 delegados no auditório do Palácio de Convenções durante a sessão de encerramento do Foro, na qual também soou "El Necio" de Silvio Rodríguez, uma das canções favoritas do ex-presidente cubano Fidel Castro.

Para o histórico dirigente falecido em 2016 foi dedicada hoje uma plenária especial na qual discursaram os presidentes de Cuba, Bolívia, Venezuela e El Salvador, cujas falas tiveram como principal protagonista o presidente dos EUA, Donald Trump.

"Sofremos grandes feridas, planos enlouquecidos do governo (de Trump) e ameaças de ocupação militar. Cuba sabe disso. Nós não tememos nenhuma ameaça do império", declarou Nicolás Maduro em seu discurso.

Por sua parte, Evo Morales chamou Trump de "o inimigo deste tempo", bem como "da humanidade e do planeta Terra", e assegurou que as "ideias anti-imperialistas" e a "visão clara" de Fidel Castro estão hoje mais "em vigor que nunca".

O Foro de São Paulo, que retornou a Havana depois de ter sido realizado em Cuba em 1993 e 2001, teve como objetivo na sua 24ª edição buscar a unidade da esquerda diante do que seus participantes consideram "ataques" da direita, do "imperialismo" dos EUA e do neoliberalismo.

Criado nos anos 90 por iniciativa de Fidel e Lula, este grupo foi concebido como um espaço de concertação política.

O Foro inclui partidos políticos de esquerda de Brasil, Argentina, Aruba, Barbados, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Curaçao, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Martinica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Trinidade e Tobago, Uruguai e Venezuela.

Atahualpa Amerise.

 

Fonte: Agência EFE